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A Redoma de Vidro - Sylvia Plath

Você também já teve aquela impressão de que alguns livros são superestimados pelo público e nem são tão bons assim? Já aconteceu também de conhecer uma obra que faz jus aos elogios e apreciação que tem? Essa é a sensação que tenho ao terminar o clássico A Redoma de Vidro, da norte-americana Sylvia Plath. Agora deixem-me explicar o porquê.

Existem livros atemporais, que não conseguimos perceber o período narrado, pois tanto o contexto quanto a linguagem conseguem ser atuais. É fato que A Redoma de Vidro é uma dessas obras que nem cinco décadas depois perdem o sentido. Pelo contrário, é impressionante ver que o assunto abordado em uma publicação de 1963 possa ser tão contemporânea para os dias de hoje.

A depressão é um distúrbio mental que nunca foi levado muito a sério. Após descobrir que a narrativa de Plath é autobiográfica, isso me fez compreender como esse transtorno pode ter sido responsável pelo seu suicídio, que coincidentemente aconteceu em 11 de fevereiro de 1963, um dia depois ao término da minha leitura. Aí eu me pergunto: o que uma obra como A Redoma de Vidro pode nos ensinar?

Somos orientados a sempre nos compararmos com os outros. Durante a leitura, percebi que ficava me comparando a Esther Greenwood, a personagem principal. Assim como ela, também tive mudanças sociais na vida que me fizeram ser uma pessoa animada em seu ápice e desânimo em outros momentos. A depressão, no entanto, vai além da alegria e tristeza: ao nos referirmos a ela como um distúrbio “afetivo”, estamos querendo dizer o quanto ela “afeta” diretamente em como somos, agimos e reagimos às situações.

O que para muitos deve ter sido visto como uma neura jovial, uma transição da adolescência para a fase adulta, mostra como o amadurecimento pessoal e profissional é um período único. Apesar de não ser citado como uma moral explícita, percebo que a falta de apoio familiar incide totalmente nas atitudes de Esther, que tem uma mãe que está mais preocupada em “resolver o problema” do que “deixar de ser um problema”.

Vejo muita semelhança entre mim e Esther: somos inseguras, medrosas e ansiosas. Em nenhum momento, A Redoma de Vidro me passou a imagem de ser uma obra de entretenimento. As situações pelas quais a personagem vivencia, aparentemente, não parecem ser o olho do furacão: em determinados momentos, enxergamos uma escritora que quis passar força a todos aqueles que, em algum momento da vida, sentiu vontade de desistir.

Talvez seja por isso que, para mim, a frase mais marcante de sua narrativa é essa:

“Você nunca se decepciona quando não espera nada de alguém.”

De uma universidade de luxo para um manicômio, o processo de recuperação de Esther, assim como a de qualquer pessoa depressiva, depende de si próprio e das pessoas que estão ao seu redor. Anos atrás, conheci uma pessoa que se intitulava depressiva, e na época pouco sabia do assunto. No início, achei que era balela. Pensava que o fato de um primeiro encontro não ter virado dois, três e nem sequer uma amizade virtual fizessem dele um canalha.

Só nós sabemos os monstros que enfrentamos. Algumas pessoas reagem a tais situações de forma absurda, enquanto outras se desesperam em momentos estranhos. Toda a trajetória de Plath ou Esther nos levam a refletir sobre o ser humano, sobre como estamos contribuindo para a queda de cada um e sobre como a falta (ou os excessos) nos fazem tão mal.

Que todos possamos, ao menos, entrar pela porta da frente e sair por ela com as próprias pernas. Boa leitura!

“Era sempre a mesma coisa: eu vislumbrava um homem sem defeitos à distância, mas assim que ele se aproximava eu percebia que não era bem assim.”

A Redoma de Vidro

Fonte: Skoob

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